SECAS E TRANSPOSIÇÕES

O AMBIENTE RURAL E AS SECAS

Certamente o homem que vive no campo está muito mais sujeito aos caprichos da natureza que o habitante das cidades. Sendo as populações do campo mais rarefeitas que as populações urbanas, fica mais difícil e oneroso construir redes de abastecimento de água, devido às distâncias entre as moradias. O mesmo ocorre em relação à remoção dos esgotos e águas servidas em geral. Ambos os benefícios têm de ser providenciados individualmente, cada moradia deve ter o seu próprio poço e sistema de esgoto. Frequentemente vemos um sítio, distante de qualquer cidade, com luz elétrica, mas sem água tratada: é que a condução de corrente elétrica por fios metálicos é muito mais fácil e barata que a distribuição de água por tubos.

Um gigantesco programa de irrigação transformou terras desérticas da Ásia Central em 68 mil km² de terras férteis. Mas a retirada dessa água de rios próximos vem causando o desaparecimento da fauna, da pesca e da flora do lago de Aral, além de severas alterações no clima local.

Mas, se por um lado as necessidades de água para uso doméstico no meio rural são bem menores que nomeio urbano, por outro a lavoura e, indiretamente, a pecuária exigem disponibilidades muito maiores. Quando as chuvas não ocorrem com regularidade, é preciso instalar sistemas de irrigação para as plantações e pastagens, das quais depende o gado. A água para irrigação não é submetida a um processo de tratamento e desinfecção e, muitas vezes, corre por canais abertos (quando não há necessidade de elevação de nível por bombeamento), o que a torna mais barata. Porém, as quantidades necessárias são muito maiores - por área abastecida - do que no saneamento das cidades. E as áreas de plantio são, geralmente, gigantescas. Por causa das quantidades necessárias, há riscos ambientais graves, relacionados com o sistemas de irrigação.

Os riscos da irrigação

No Cazaquistão, em plena Ásia Central, e na Califórnia, na Costa Oeste dos Estados Unidos, dois exemplos podem ser citados para caracterizar o risco que se corre em não considerar o papel relevante que desempenham as águas do ponto de vista puramente ambiental.

O primeiro risco é representado pelo imenso lago de Aral, que já foi considerado o maior lago do mundo depois do mar Cáspio e, no entanto, está morrendo. Não só pelo recuo de suas águas (dos 80 mil km² que possuía já perdeu 25 mil), como pelo aumento de sua salinidade, que já atinge 26g por litro, três vezes maior que antes. Antes do quê? Antes que se iniciasse um gigantesco programa de irrigação das terras da Ásia Central, que transformou um imenso deserto nos maiores campos de algodão, cereais e vinhas do mundo: uma área de 68 mil km² de terras férteis! Mas a irrigação foi feita com a construção de canais que desviaram os rios Amudaria e Sirdaria, que contribuíam com mais de 50 milhões de m³ de água por ano para o lago. A retirada dessa água vem causando não só o desaparecimento da pesca como da flora e fauna típicas do lago e até mesmo de terras vizinhas - e ainda severas alterações no clima local. A gazela do deserto e muitas outras aves também desapareceram. E não é só: a irrigação intensiva provoca o fenômeno da laterização, isto é, subida de sais para a superfície do solo, por evaporação excessiva, que aumenta a salinidade e reduz a fertilidade. Fenômeno, aliás, muito comum nas terras do nordeste brasileiro.


O caso do Mono Lake

O Mono Lake, situado no interior da Califórnia, atrás das montanhas da Sierra Nevada, aproximadamente na mesma latitude de San Francisco, é um lago bem mais modesto, com apenas 170 km², mas que há 50 anos já teve 220 km². É que, dos seus tributários principais, quatro foram desviados desde 1941, para abastecimento e irrigação de áreas distantes, como San Francisco e Los Angeles. 


Esse lago já era salgado, em consequência dos altos índices de evaporação naquela região árida, com salinidade duas vezes e meia maior que o próprio Oceano Pacífico. Mesmo assim, possui uma flora e fauna típicas, perfeitamente equilibrada, que permite a alimentação de um imenso número de aves migratórias e residentes durante o ano todo. O aumento de salinidade já ocorrido estava em vias de produzir drásticas reduções na produção de algas, o que levaria a eliminação progressiva de insetos, crustáceos e peixes, co consequente perda das aves. Os estudos realizados levaram o Departamento de Águas e Energia do Estado a reconhecer, em 1988, que o lago constitui um "recurso ambiental único, de valor significativo". 


Em 1991 e nos anos subsequentes, uma corte da Califórnia estabeleceu que o lago deve ter a sua profundidade estabilizada, cassou as licenças até então concedidas para uso das águas da bacia e determinou o restabelecimento do regime de escoamento antes existente nos quatro rios que haviam sido desviados.








Possibilidades no Brasil

No Brasil, como se sabe, existem enormes áreas em que, embora não ocorra um regime desértico verdadeiro, as chuvas mal distribuídas sugerem a utilização de sistemas de irrigação. 

No nordeste são construídos açudes com essa finalidade, que retêm as águas dos períodos chuvosos para distribuição na seca. Muitos desses açudes se transformaram em lagos salgados, por falta de manejo adequado. 


A travessia entre as cidades de Propriá (SE) 

e  Porto Real do Colégio (AL), 

pelos bancos de areia.
Veja a foto ao lado, me diga se este rio tem condiçóes de ceder alguma gota d'água para a transposição, se o projeto estivesse em vigor, de onde seriam retirados os volumes necessários ao atendimento da demanda de 12 milhões de pessoas no Setentrional? 

O rio São Francisco irá morrer, tudo isso será  uma catástrofe ambiental inigualável!!!

Se  ele hoje já está desse jeito aí, e cheio de imensas ilhas devido a assoreamento de suas encostas, como ficará após a transposição de suas águas? 

A irrigação de áreas a partir do rio São Francisco vinha dando excelentes resultados, criando terrenos férteis, de grande produtividade, onde antes só se via caatinga, 
mas hoje já se encontra muitas terras já com salinização latente e aí todos já sabem como vai terminar esta estória.

Mas tais iniciativas devem ser precedidas de estudos detalhados de solo e condições ecológicas, para que não se repitam aqui as situações desastrosas que ocorreram na Ásia e nos Estados Unidos.