PLANEJAMENTO E CONFLITO NO USO DA ÁGUA

Como corrigir a "indisciplina" dos rios?

Os rios são "indisciplinados" : seguem a sua vocação natural de drenar as áreas encharcadas pelas chuvas. Por isso, enchem-se de água na época chuvosa e secas - às vezes completamente- nos períodos de estiagem. 

Para o homem, sempre interessado no uso permanente dessa água, essa indisciplina pode constituir um verdeiro transtorno. Nas épocas de grandes chuvas, os volumes de água transportados inundam a várzea, provocando a submersão de casas, cidades e plantações situadas em local que antes constituía a " reserva natural" de espaço para as cheias. Na seca, cumprida a missão de drenar o terreno, o rio estanca ou fica com uma vazão muito reduzida, não permitindo o uso para abastecimento, irrigação ou geração de eletricidade. Além disso, o homem agrava a situação ao "impermeabilizar" os solos com suas casas, ruas, praças e terrenos cimentados ou asfaltados. Em vez de absorver a água que depois seria drenada lentamente para os lençóis freáticos, esses solos passam a conduzi-la diretamente ao rio, provocando maiores inundações.

Há vários séculos que o homem descobriu o meio de "domesticar" o rio indisciplinado. Ele usa o represamento, que talvez tenha aprendido co os castores. Com a construção de uma barragem, o rio é transformado em lago, que se enche na época de cheias, armazenando a água que será usada também na época de seca. Assim, é possível dispor de vazões regularizadas durante todo o ano, evitando as inundações(uma vez que a água das enchentes fica armazenada) e garantindo o abastecimento, a irrigação de terras ou o funcionamento das turbinas durante todo o período em que não chove.


Nas chuvas eles inundam, cobrem as casas, cidades e plantações. Na seca impedem a irrigação, o abastecimento e a geração de eletricidade. Para gerar grandes quantidades de energia, utiliza-se grandes quedas, ou grandes volumes de água. O sistema Billings, em São Paulo, emprega um volume de água relativamente pequeno, mas uma queda de 740 metros de altura da Serra do Mar. 


Já a Represa de Itaipu, apesar de ter uma queda relativamente pequena, produz muita energia porque conta com a excepcional vazão do Rio Paraná um dos maiores do mundo.Por sua vez, o armazenamento de grandes volumes de água exige extensas áreas de terra principalmente em terrenos planos. 

É o caso das represas construídas nas planícies da região amazônica. Áreas imensas de solo, recobertas por densas florestas, são inundadas ao se formar o lago, afogando e destruindo massas consideráveis de matéria vegetal, com a aniquilação dos ambientes florestais, animais e espécies características, chegando a influir no clima da região. E o que é pior, para produzir, às vezes, quantidades irrisórias de energia, como é o caso da barragem de Balbina, construída no Estado do Amazonas, que inundou uma áreas de 2.400 km² de florestas. 


Hidrelétricas no Amazonas: ”temos um exemplo negativo no nosso quintal”.
Esse lago, muito raso - não mais que sete metros de profundidade média - transformou-se num verdadeiro pântano, infestado de mosquitos e desprendendo um cheiro nauseabundo, derivado do apodrecimento dos vegetais afogados. 

Domesticar rios exige um planejamento perfeito. Só assim o aproveitamento é total, sem conflitos ou incompatibilidades


Barragens para a regularização de rios devem ser projetadas em função de um perfeito planejamento,  que leve em conta a situação geográfica e ecológica, bem como os diversos usos possíveis da água, para permitir o seu aproveitamento máximo, em lugar de gerar conflitos e incompatibilidades. Um exemplo pioneiro desse tipo de projeto, realizado muito antes da existência de legislação e movimentos ambientais em nosso país, foi o da represa de "escadas para peixes" (que, entretanto, não chegou a ser construída), eclusas para o trânsito de embarcações e outras instalações destinadas a garantir a possibilidade de usos múltiplos das águas represadas, minimizando os prejuízos da mudança do regime natural do rio.